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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MAPAS MENTAIS GEOGRAFIA E OUTROS!

MAPAS MENTAIS GEOGRAFIA E OUTROS!




ARTIGOS
O MAPA MENTAL: PERCEPÇÃO DO ESPAÇO E IDENTIDADE NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA
Lucas Vinícius Brunini
RESUMO
Cabe à Geografia levar os alunos a compreenderem o espaço no qual estão inseridos, bem como sua participação nesse meio. Para isso, é necessário ter os conhecimentos de direção, proporcionalidade, etc. Com a aplicação do mapa mental, é possível identificar as facilidades e as dificuldades dos alunos referentes a esse tema. O aluno, ao elaborar seu mapa, se defrontará com uma série de desafios. O professor aplicador desses mapas, por meio de sua análise, perceberá nos mapas como o aluno se vê em meio à sociedade que vive, suas prioridades e fatos marcados em sua história, transmitidos através do empirismo demonstrado no mapa mental.
Palavras chave: cartografia, mapa mental, percepção, identidade, empirismo.
ABSTRACT
It is a Geography duty to make the students comprehend the space in which they are inserted as well as their participation on that environment. For that purpose it is necessary to have knowledge of direction and proportionality. Applying the mental map it is possible to identify weather it is easy or difficult for the students to understand this issue. Several challenges might be found when the student elaborates the map. When analyzing the map the responsible teacher will notice how the student feels about the society, the student’s priorities and facts of the student’s history transmitted by the empiricism demonstrated by the mental map.
Keywords: cartography, mental map, perception, identity, empiricism.
INTRODUÇÃO
A cartografia é uma ciência milenar, usada para a marcação e delimitação de áreas, principalmente até a metade do século XX, com visão expansionista em relação aos territórios conquistados. Com o passar do tempo, o conceito, a idéia e o usufruto dessa ciência vai aos poucos mudando, tanto ideologicamente como tecnologicamente, devido à evolução dos conceitos políticos/ideológicos da sociedade e da elite, e também devido aos acontecimentos históricos, como o fim da segunda grande guerra, que foi o início da transição ideológica da política, ou seja, essa deixou de ter um caráter expansionista explícito e, consequentemente, a cartografia passou a ter um papel diferente, tanto para os governantes como para a sociedade.
Hoje, a cartografia não só deixou de pensar diferente como também passou a ser usada com outros métodos. A cartografia nos dias atuais tem notável importância em políticas de planejamento, isto é, em áreas governamentais, pois cabe a essa ciência não apenas a delimitação de territórios, mas também servir como uma ferramenta que mostra, de forma simples, em representação cartográfica – mapa – os dados quantitativos e qualitativos de uma determinada região. Para isso, a cartografia sempre andou lado a lado com a tecnologia, a fim de melhorar, facilitar e ter uma maior precisão na elaboração dos mapas.
Paralelamente à transição ideológica e política, a cartografia passa por uma reformulação metodológica, em consonância com as correntes de pensamento geográfico ligadas à percepção. Essa ciência vem sendo cada vez mais usada em outras funções que se opõem ao pragmatismo e ao modo tradicional de pensamento ideológico; a cartografia vem se aproximando consideravelmente da prática de ensino, pois cabe a ela também embasar a formação do cidadão através de conhecimentos como localização, direção, proporcionalidade, interpretação, representação, etc.
Com o desenvolvimento e a evolução da educação, a cartografia passou a ser uma grande aliada das mesmas, e um produto da aliança entre essas duas vertentes é o mapa mental, que através da sensibilidade do educador, ao analisar o produto de seu educando consegue relacionar o mapa elaborado com o relacionamento desse aluno com o seu meio, seu modo de pensar, sua análise geográfica do mundo, etc.
GEOGRAFIA, CARTOGRAFIA E PERCEPÇÃO: a importância do mapa mental
Na educação, cabe à Geografia fazer a sociedade, desde sua infância, a ter noção de espaço, locomoção, direção, etc. Com o passar dos anos, a Geografia passa a ter outro papel, levando a sociedade a ter um conhecimento mais amplo e mais complexo dos fatos ocorridos no espaço em que vive, havendo aí a necessidade de um estudo mais aprofundado, possibilitando a essa mesma população entender as causas e a localização dos problemas, e também dos fatores positivos (potencialidade) do meio.
Uma pessoa com o embasamento geográfico ideal é aquela que domina as noções do espaço, de direção, que percebe o meio em que vive e sabem como se relacionar com a sociedade e o espaço nos quais está inserida, sendo que a cartografia desempenha o papel de importante ferramenta no desenvolvimento dessas habilidades.
Um dos grandes desafios do ensino da Geografia é o fato do professor não conhecer a realidade dos alunos, e a partir daí, encaminhar um processo ensino-aprendizagem que valorize o cotidiano, o lugar, o indivíduo. São vários os motivos que explicam esse acontecimento, mas um dos mais evidentes é a falta de uma metodologia capaz de fazer o professor entender e perceber a capacidade e fragilidade de cada aluno, havendo a necessidade, a partir disso, de criar mecanismos para uma melhor aprendizagem de seus educandos. Para isso, o professor deve captar o modo de pensar de cada aluno, e a aplicação do mapa mental pode facilitar essa compreensão. Embora o mapa mental assuma essa importância no processo ensino-aprendizagem, ele é um recurso didático ainda pouco empregado.
O mapa é capaz de mostrar como o aluno - um dos objetos do presente estudo e elaborador do mapa mental - vê e interpreta o meio em que vive, sendo capaz de identificar como ele concebe a sociedade no qual está inserido ocorrendo assim denúncias das irregularidades do espaço, do mesmo modo que também mostra suas atribuições de valores diferenciados para o mesmo espaço, ou seja, os locais com os quais indiretamente ele mais se identifica. O mapa é capaz de dar, principalmente, o diagnóstico de dificuldades relacionadas com os princípios básicos da geografia como proporcionalidade e direção, conhecimentos estes usados pelo resto da sua vida.
Dados os fundamentos e alicerces da Cartografia e da Geografia, o presente estudo tem como finalidade mostrar a importância da utilização do mapa mental nas salas de aula, principalmente, nas primeiras semanas do ano, período em que se dá o início da relação entre o educador e o seu educando. Mesmo sendo de grande importância, esse recurso didático ainda é pouco utilizado pelos professores. Com a interpretação do mapa mental elaborado por seu aluno, o professor consegue entender e diagnosticar as deficiências de cada aluno em relação aos princípios básicos da Geografia, criando a partir disso metodologias de ensino voltadas para essas deficiências.
Para a realização do presente estudo, buscou-se, inicialmente, uma reflexão a partir da leitura de bibliografias pertinentes ao tema, em que se destacaram os trabalhos fundamentados na percepção ambiental em conjunto com a malha urbana, local de residência dos elaboradores dos mapas em questão. Também foram consultados autores que escreveram sobre mapas mentais, mostrando onde e como os mesmos são importantes, além da orientação para uma melhor interpretação desses mapas. Em seguida, procedeu-se a proposta de elaboração de mapas mentais por crianças e jovens de diferentes classes sociais, que analisam e encaram a sociedade de modo distinto, sendo esses os fatores de maior relevância para a análise dos mapas. Os objetos de estudo do presente trabalho são estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio, de escolas públicas e particulares de Votuporanga. A definição do objeto de estudo se ateve a esses critérios para haver a comparação de como são desenvolvidos os princípios básicos da Geografia relacionando-os ao meio em que foram criados, referentes às diferentes classes sociais. Foi pedido para esses mesmos alunos a elaboração de dois mapas: o primeiro sob o título de Votuporanga; o outro referente ao bairro onde o aluno mora. Posteriormente, os mapas mentais produzidos foram interpretados levando-se em consideração o conhecimento geográfico relacionando-os com a classe econômica e social de seus elaboradores.
ABORDAGENS SOBRE IDENTIDADE E PERCEPÇÃO
São vários os temas abordados no estudo, do mesmo modo que também são utilizadas várias correntes de pensamentos de diversos autores. O estudo é todo centrado na ótica de três autores:
- Kevin Lynch, urbanista norte-americano, que mostra em seu livro “A imagem da cidade” o empirismo existente nas pessoas, relatando como as mesmas observam o espaço urbano em que convivem, sendo esse o motivo de como as pessoas moldam e entendem as cidades.
- Vicente del Rio e Lívia de Oliveira, que escreveram juntos o livro “Percepção Ambiental: a experiência brasileira”, que trata da questão da percepção do meio ambiente, seja ele natural ou construído, nas diferentes visões de profissionais como arquitetos, psicólogos e geógrafos.
- Yi-fu Tuan, geógrafo chinês, em sua obra que tem como título um termo criado por ele mesmo chamado “Topofilia”, sendo esta a definição de maior importância no estudo, que mostra a relação afetiva da pessoa com o espaço geográfico, bem como as atitudes e valores do indivíduo referente ao meio em que o mesmo foi criado.
Na elaboração de um mapa mental a pessoa, antes de tudo, se defronta com preferências, ou seja, os lugares que ela mais se identifica, principalmente quando lembranças ficam marcadas na mente de forma direta ou indireta. Como Lynch (1997, p. 1) cita, “nada é vivenciado em si mesmo, mas sempre em relação aos seus arredores, às sequências de elementos que a ele conduzem, à lembrança de experiências passadas”. Na ótica da corrente empirista, de forma geral, a sociedade e a convivência do ser com o seu meio são as responsáveis pela maneira como o indivíduo entende a paisagem na qual está inserido, assim como o pensamento é reflexo do meio onde o indivíduo foi criado, existindo aí a formação cultural do indivíduo, isto é, o modo como ele vê e encara a sociedade, sendo transmitido através de sua subjetividade na elaboração de seu mapa mental.
Para um melhor entendimento desse assunto, seguiu-se o mesmo raciocínio na visão de Tuan, que associa os conceitos de cultura com atitude.
Percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura. (TUAN, 1980, p. 4)
Tuan deixa claro que o cidadão demonstra as impressões absorvidas por intermédio dos estímulos externos, utilizados na sua formação cultural através da percepção, ou seja, conhecimentos e modo de pensar adquiridos com seu tempo de convivência em relação ao espaço onde foi criado. Diz também que atitude é uma postura cultural, que existe através das percepções do indivíduo em relação ao meio, formada de uma longa sucessão de percepções, isto é, de experiências. Com esse raciocínio, Tuan lembra a percepção da criança, que não têm atitudes bem formadas em razão da pouca idade e do menor convívio com o espaço (experiência), comparado aos adultos, que têm maior idade e consequente experiência em relação ao meio (relatada por Tuan como experiência adquirida que passa a ser transmitida através das atitudes).
Como ser participativo e atuante na sociedade em que vive, a pessoa vive em intenso contato com o meio do qual participa. Essa percepção do meio não se dá apenas através da captação dos estímulos externos representados pela subjetividade; se dá também por fatores concretos como a percepção do meio através dos sentidos do corpo humano. Cada ser vivo do reino animal se destaca pela utilização de algum sentido como, por exemplo, o cachorro através do olfato, a águia através da visão, etc.
[...] por mais diversas que sejam as nossas percepções do meio ambiente, como membros da mesma espécie, estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira. Todos os seres humanos compartilham percepções comuns, um mundo comum, em virtude de possuírem órgãos similares. A unicidade da perspectiva humana tornar-se-á evidente quando pararmos para indagar como a realidade humana deve diferir da dos outros animais. (TUAN, 1980, p. 6)
No homem, a visão passa a ser o sentido mais lembrado quando questionado sobre a percepção do espaço, não levando em consideração a relevância dos outros sentidos. Tuan frisa que o ser humano, ao observar o espaço, não assimila esse conhecimento apenas através da visão, mas também dos outros sentidos. Prova disso é a associação de uma bela paisagem natural com o som de cachoeiras e pássaros, o cheiro das flores e o contato (tato) com as gramíneas; ou até mesmo a assimilação do barulho da chuva caindo sob o cheiro de terra molhada quando se vem em mente um lugar calmo e tranqüilo, propício à leitura. Cabe à visão a observação do espaço quando não há a relação do indivíduo com o lugar. A partir do momento que há essa relação através do cotidiano, os outros sentidos passam a ser mais destacados, como as diferenças entre o cheiro da cidade e do campo.
As diferenças entre as classes sociais no tocante à percepção da criança em relação ao meio em que convivem são de grande relevância. Uma criança de baixa renda, ao se confrontar com as dificuldades financeiras decorrentes da sociedade em que se encontra, não tem condição de utilizar um meio de transporte para ir até a escola, restando apenas a opção de percorrer o trajeto a pé. Dessa maneira, há intenso contato dessa criança com o meio, seja urbano ou rural, pois através desse trajeto percorrido a pé, permanece em intensa relação com a paisagem, utilizando de maneira mais completa os sentidos do corpo humano (visão, olfato, audição, etc.). Durante o trajeto percorrido a pé é possível sentir as dificuldades de convívio com o local. Ninguém sente melhor na pele uma cidade com infra-estrutura precária do que essas pessoas de baixa renda, como por exemplo, uma rua com calçadas esburacadas e sem sombras, um córrego poluído, ruas sem pavimentações ou uma paisagem natural comprometida através da poluição visual.
Diferentemente das crianças de baixa renda, as crianças que gozam de melhor condição financeira não têm o mesmo contato e conseqüente percepção do meio em que vive. Ao percorrer o trajeto de sua casa até a escola dentro de um carro, a criança de melhor condição financeira passa a viver em um mundo paralelo à da triste realidade da criança pobre. Ao se defrontar com os problemas ocorridos, sejam esses de infra-estrutura urbana até fatores climatológicos, a criança de melhor classe social reage diferente, uma vez que vive paralelamente a esses problemas ao utilizar o ar condicionado de seu carro, ficando desprovidas do contato com o meio, não percebendo a falta de sombra nas calçadas, não sentido o cheiro ruim do córrego poluído e até mesmo não vendo a poluição visual existente aos seus arredores, pois passa boa parte da infância centrada em jogos eletrônicos, ou o carro de vidros escuros mascaram a cidade que essa criança vê.
Ainda sobre a relação entre a pessoa com o seu meio, no caso a cidade, Lynch (1997, p. 5) afirma que “a cidade é em si o símbolo poderoso de uma sociedade complexa”, mostrando o forte vínculo do ser em relação ao seu meio. Para Lynch a estrutura e a identidade do indivíduo (no caso os elaboradores dos mapas mentais do presente estudo), pode ser decomposta em três componentes: identidade, estrutura e significado. A identidade se aplica ao fato da identificação de um objeto, ou seja, aquilo que se difere das outras coisas e, consequentemente, de forma abstrata é captada como prioridade pelo indivíduo na hora da transmissão da sua percepção para o mapa mental, mostrando o lado individual e unicidade de seu elaborador. Como estrutura, temos a relação do indivíduo elaborador do mapa com o objeto em questão, relatando o seu elo com o ambiente e, por fim, o significado, que mostra o lado humano e emocional perante esses objetos, seja ele acessível ou utópico, representado de forma subjetiva em seu mapa.
Sobre a identidade referente ao ambiente físico, Lynch cria o termo chamado de imaginabilidade, explicado como:
[...] a característica, num objeto físico, que lhe confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado [...]. Também poderíamos chamá-la de legibilidade ou, talvez, de visibilidade num sentido mais profundo, em que os objetos não são apenas passíveis de serem vistos, mas também nítida e intensamente presentes aos sentidos. (LYNCH, 1997, p. 11)
Com a interação entre o cidadão e a cidade, o cidadão estabelece um vínculo com o seu meio, elaborando a partir daí uma nova visão da estrutura do seu entorno e, ao mesmo tempo, não deixa de lado seus conceitos básicos, sua forma de entender a sociedade, reforçando a corrente do pensamento empírico.
Relacionando os temas referentes ao urbanismo com os alicerces da Geografia, Lynch afirma que uma das piores sensações do cidadão que se encontra em uma cidade é a desorientação, pois dessa maneira, o sujeito passa a ser um coadjuvante na sociedade, caracterizado por Lynch como um sujeito perdido, que “remete muito mais que à simples incerteza geográfica, trazendo consigo implicações de completo desastre”. (LYNCH, 1997, p. 4).
Sobre as experiências com mapas mentais aplicados entre crianças de baixa renda, Mariza Weber Alves aplica essa metodologia em uma escola localizada em uma das favelas do Rio de Janeiro, cujo público alvo são crianças carentes que vivem em intensa relação com seu meio, uma vez que a favela se encontra em um morro e está sujeita a vários problemas sociais e de infra-estrutura urbana.
Como arquiteta e urbanista, Alves cita a importância dessa profissão na educação escolar. Levando-se em consideração que cada criança tem seu próprio saber em relação à percepção do espaço, cabe aos professores despertar e enriquecer esse conhecimento.
Ao arquiteto-educador cabe fazer manifestar esse conhecimento no espaço escolar de forma que a criança perceba que é saber aquilo que ela sabe, enriqueça-o e tenha acesso a informações de que não dispõe e que, certamente, enriquecerão seu saber, sua prática e refletirão em alterações de seu meio ambiente. (ALVES, 1996, p.232)
Para despertar a percepção dos alunos na hora da elaboração do mapa mental, Alves priorizou a observação em posições distintas e jamais observadas por esses. Após pedir para a criança desenhar a visão que ela tinha sobre a sua própria sala de aula, foi pedido para essa mesma criança desenhar o mesmo local olhando a partir de outro ângulo, sendo colocada em uma elevada altura. Com isso, passa a ter uma melhor visão e conseqüente percepção do espaço, encontrando melhor facilidade na elaboração desse mapa no tocante à questão da proporcionalidade.
Ao analisar os mapas elaborados por crianças de classes com maior renda, Alves encontra nesses mapas a interdisciplinaridade empregada por esses alunos, sendo observada relevante importância no fato desses mapas serem caracterizados pela grande demonstração de áreas verdes, havendo certa rejeição sobre a cidade. Como citado antes, crianças de classe de maior renda não têm a mesma relação com a cidade comparada às crianças de baixa renda. Para os primeiros, a cidade é vista como negócios, compras, condomínios e até mesmo violência. Já as crianças de menor condição financeira, sem opção, vivem em intenso contato com essa cidade, independente de seus problemas, sendo esse o retrato mostrado nos mapas elaborados por essas crianças.
Por fim, Alves alega que não cabe somente à escola e ao professor fazer o aluno dominar o conhecimento sobre as cidades. “Trabalhar com a organização da cidade e suas contradições requer conhecimento aprofundado e não se quer aqui afirmar a necessidade de polivalência desse professor regente, já com suficientes desafios em seu trabalho”. (ALVES, 1996, p.236). Alves cita que nos anos em que esteve ligada às escolas para a elaboração do estudo, percebeu que a mudança é necessária, tamanha as necessidades e deficiências das estruturas dessas escolas e da capacidade dos profissionais nela envolvidos, onde esses dirigiam à pesquisadora um olhar de desconfiança, cientes de que algo não ia bem.
REPRESENTATIVIDADE DOS MAPAS MENTAIS DOS ALUNOS DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO E SEUS RESPECTIVOS ATRIBUTOS
Ao observar os mapas mentais e a vida social de seus respectivos elaboradores, foi possível observar uma série de revelações de modo direto ou indireto advindo dos alunos. O fato de ir à casa do aluno fazer a proposta da elaboração do mapa, bem como os diálogos ocorridos, dá a oportunidade de ser observado o meio que essa pessoa vive, sendo representado posteriormente por seu elaborando como forma de orgulho ou omitido, revelando certa vergonha de sua precária condição social. A análise dos mapas se inicia apontando os objetos lembrados e destacados nos mapas por seus elaboradores e devidas justificativas decorrentes do empirismo.
Mapa elaborado por Eloah, estudante de 18 anos de uma escola pública, representa seu bairro mostrando a frente de sua casa, e ao fundo um prédio, onde residem algumas de suas amigas mais próximas. Ao lado, desenha uma praça pública, deixando de lado a questão de localização e proporcionalidade, uma vez que a mesma se encontra em um local mais distante e em outra direção, mas fez questão de desenhar, pois é onde passa seu maior tempo de lazer ao lado de seus amigos. Representando sua cidade, escolheu o marco histórico de Votuporanga, destacando a igreja, a capela, a fonte luminosa e algumas árvores. Não deixou de lado também alguns detalhes como o fato da praça ser repleta de pombos, os carrinhos de lanche e um carro parado no semáforo (ao fundo).
  Nathália, estudante de uma escola particular, desenha em seu mapa um clube próximo à sua residência, onde a mesma nunca teve acesso. Ao lado representa um condomínio fechado e na frente uma árvore, que não existe. No desenho, apresenta apenas uma das centenas de árvores encontradas no local, principalmente dentro do condomínio e do clube. No outro mapa, como representação da cidade, também desenha seu local histórico destacando a igreja, a árvore central, uma vegetação cercada por um banco e um detalhado piso de concreto, sendo desenhado cada quadrante com tonalidades de cores diferentes. A tonalidade e a estética do desenho foram os fatores de maior destaque no mapa.
 Ao fazer os pedidos para a elaboração dos mapas, os alunos do terceiro ano do ensino médio apresentaram certa resistência por conta da insegurança, sendo o maior medo a questão dos mesmos serem capazes ou não de fazer o mapa em questão. Houve certa dificuldade em achar um aluno do terceiro colegial de escola pública interessado na elaboração do mapa, por conta da desconfiança quando alertados que os mapas depois de prontos seriam analisados, justificando toda insegurança mostrada pelos alunos na hora do convite, decorrente do conhecimento desses alunos sobre as limitações encontradas no ensino público. Em relação aos alunos da escola particular, houve menor resistência e essa relacionava-se à estética do desenho, sempre justificando que não sabiam desenhar ou que não gostavam tanto de Geografia, preocupados em comprometer o presente estudo.
Em ambos os mapas a igreja foi lembrada como cartão postal de Votuporanga, mas desenhada diferentemente em cada mapa. Nathália deixou um pouco de lado a questão ambiental de seu mapa, sendo detalhista na arquitetura e tornando os traços o mais realistas possível, mostrando ter um grande poder de observação, retratado nos mapas decorrente do detalhado desenho da igreja e dos blocos; enquanto Eloah não se apegou a detalhes arquitetônicos, mas sim a valores, deixando bem claro a sua relação com a cidade, representando a praça do seu bairro, o prédio onde moram alguns amigos, os pássaros, os carros e até mesmo um carrinho de lanche.
REPRESENTATIVIDADE DOS MAPAS MENTAIS DOS ALUNOS DO SÉTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E SEUS RESPECTIVOS ATRIBUTOS
Os alunos de menor faixa etária, por conta dos mesmos serem mais detalhistas na hora de desenhar, proporcionam melhor interpretação e análise decorrente da grande quantidade de informações expressas nos mapas mentais. Com isso, as análises foram mais consistentes e mostrando conclusões reveladoras.

A criança encarregada de representar a escola pública foi Ayvin, estudante do 7º ano do ensino fundamental, que reside ao fundo da casa de sua bisavó, que por sua vez é vizinha também de sua avó. Ao pedir pra desenhar seu bairro, houve relevante omissão da realidade, uma vez que a sua casa e a casa da avó são consideravelmente pequenas, tendo apenas a casa da bisavó de maior tamanho, sendo somente essa desenhada no mapa e demonstrando certo orgulho, a observar o número da casa que fora destacado. Ao lado de sua casa, existe um campo de futebol que ocupa todo quarteirão, o que não aparenta ter relevância para a criança, uma vez que o desenhou em pequena escala em comparação com os outros elementos. Em ambos os desenhos utilizou traços retos, deixando de desenhar as inúmeras árvores encontradas em seu bairro. No desenho representando a cidade, exibiu o comércio da cidade, mostrando de forma indireta, certo desejo que é alcançado poucas vezes ao ano, a observar pela etiqueta sem preço pendurada na roupa.
 O mapa desenhado por uma criança que sempre estudou em ensino particular teve características opostas. Ao pedir pra desenhar seu bairro, Marcela demonstrou orgulho ao escrevê-lo como título, desenhando cada pessoa da sua família que ela mora junto e também seu vizinho de residência. Não apresentou traços retos. Desenhou várias árvores, um céu azul e um sol bem nítido; fato também ocorrido em seu desenho representando sua cidade, no qual foi observado até mesmo pássaros, a fonte, a cruz como marco histórico da cidade e as exatas quatro concentrações de árvores encontradas na praça.
MAPA MENTAL COMO REPRESENTAÇÃO DE VALORES E DESEJOS
Ao observar os mapas elaborados por pessoas de idades e classes sociais distintas, foi possível observar grandes diferenças no modo como o aluno se julga inserido na sociedade, revelando orgulhos ou omissões da realidade que tenta esconder. Levando-se em consideração a mesma idade de seus elaboradores de classes sociais distintas, os resultados dos mapas foram bastante diferentes comparando o ensino público com o privado, porém, revelou certa semelhança no tocante aos valores entre a aluna do 3º colegial da escola pública com a criança do 7º ano da escola privada.
Os mapas elaborados pelos jovens do ensino médio demonstraram certa interdisciplinaridade, associando sua cidade com os fatos históricos, sendo esse o fator relevante na hora de desenhar a igreja central como destaque da cidade. A jovem do ensino público demonstrou um elo entre ela e sua cidade ao demonstrar em seu mapa lugares que passa seus momentos de lazer ao lado de seus amigos, onde alguns desses tiveram seu prédio residencial devidamente desenhado ao fundo da casa, além da praça onde eles se reúnem, além da presença da vegetação.
A interdisciplinaridade também foi prioritária no mapa da estudante do ensino privado, colocando também a praça central da cidade como destaque, mas deixando de lado sua relação com o meio ao deixar de detalhar as árvores e se preocupar com a estética e detalhes do desenho, relatando seu poder de observação da estética.
Comparando os mapas elaborados por crianças da 7ª série do ensino público foi onde se encontrou maiores diferenças em relação aos valores e desejos. A estudante da escola pública demonstra claramente um forte desejo ao mostrar em seu mapa o centro comercial ao se relacionar com a cidade. Devido à sua baixa condição financeira, o conceito de compra passa a ser uma de suas prioridades e desejos, expostas de forma indireta em seu mapa ao desenhar uma roupa com uma etiqueta sem preço, já que faz isso apenas uma ou outra vez ao ano. Pela baixa condição financeira, omite a sua realidade ao não desenhar, em linhas quadradas, a sua pequena casa, desenhando apenas a de sua bisavó que é consideravelmente maior, colocando até seu devido número.
Para a criança que estuda na escola particular, de privilegiada condição financeira, a questão do consumismo não foi levado em consideração, uma vez que pra ela isso não é novidade, pois tem condições de comprar roupas sempre que necessita. Em seu mapa foi transmitida maior alegria, demonstrado com a utilização de cores fortes e traços redondos, expressa em seu mapa forte relação com o seu meio, ao desenhar todos seus familiares e seus vizinhos, não deixando de lado os detalhados quatro cantos vegetativos e o marco histórico da cruz central encontradas em uma praça pública.
Com a aplicação desses mapas mentais, foi possível entender os orgulhos e omissões da realidade dos alunos elaboradores desses mapas, bem como os mesmos se entendem inseridos e participantes do meio em que vivem. O mapa mental demonstra ser uma riquíssima ferramenta didática de uma superficial, mas importante compreensão do pensamento dos alunos sobre sua realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Posted 5 minutes ago by Colegio Assunção

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