
Numa perspectiva da aprendizagem como processo pessoal, em que alguém
constrói o conhecimento sobre determinado objeto, quem aprende não pode
ausentar-se nem sequer ser apenas espectador de sua avaliação. Isso
significa admitir que qualquer prática de avaliação escolar deve incluir
a dimensão da autoavaliação. Nada pode dispensar o olhar do aprendiz
sobre seu próprio processo de aprendizagem. Ninguém poderá dispensá-lo
de, ele próprio, voltar-se para a atividade ou para as produções
apresentadas, a fim de ponderar sobre as condições de sua qualidade ou
de sua consistência.
Não tem sentido dispensar o próprio aluno desse papel de avaliador e
eximi-lo de ser capaz de julgar a propriedade ou a adequação de seus
desempenhos. Nas escolas, a avaliação que mais se destacou foi a
pontual, feita nos dias de prova, nos dias de exame para atribuição de
notas. O erro ganhou, no universo escolar, um lugar de destaque.
Dessa forma, avaliar passou a ser identificado como tarefa de
correção. Assim, os alunos, quando querem saber se já foram avaliados,
perguntam se as provas já foram corrigidas. De fato, o ato de corrigir
implica, naturalmente, o erro, Como se avalia a produção textual dos
alunos do Ensino Médio pois ninguém corrige o que está certo. Ou seja,
professor e aluno já assumiram o contrato de se fixarem no erro, naquilo
que precisa ser corrigido. É assim que, na correção dos textos, cada um
só tem olhos para os erros, para aquilo que constitui alguma violação.
Avaliar uma redação se reduz ao trabalho de apontar erros, de
preferência aqueles que se situam na superfície da linha do texto. Nessa
perspectiva de apenas focalizar o erro, professor e aluno perdem a
oportunidade de perceberem também o que já foi aprendido, o que já pode
ser testado como competência desenvolvida.
Os textos dos alunos, mesmo os do Ensino Médio, se apresentam com
imensas dificuldades, não apenas linguísticas, e, no entanto, a escola
continua não priorizando a produção de textos ou não priorizando a
exploração das regularidades discursivas. Continua a comentar que os
alunos não sabem escrever, que são vergonhosos seus textos. Ou seja, a
escola continua agindo como se nada dissessem esses textos, ignorando os
sinais que se evidenciam nas atividades de avaliação. Nessa trilha, é
preferível apresentar as “fórmulas” a considerar as possibilidades de
interpretação e as maneiras de elaboração do texto. Os elementos de
textualização cercam todas as propriedades dele (intertextualidade,
informatividade, coerência, coesão) e todos os processos e as
estratégias na construção sequencial do texto. Especificamente,
condicionam as situações e as regularidades de como funcionam sua
estrutura. Dessa forma, pode-se afirmar que um conjunto de palavras,
para ser um texto, precisa, de alguma forma, estar encadeado,
articulado, concatenado, promovendo a sua coesão e, em parte, a sua
coerência.
A priori, o próprio texto não aceita definição pronta,
inacabada. Até porque ele vai depender das concepções que se adotam para
o que é língua e, consequentemente, sujeito. Por exemplo, na concepção
de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor
absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto
lógico do pensamento (representação mental). Na concepção de língua como
código, como mero instrumento de comunicação, e de sujeito como
predeterminado pelo sistema, o texto é visto como simples produto da
codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte,
bastando para este o conhecimento do código, já que o texto, uma vez
decodificado, é totalmente explícito. Já na concepção interacional
dialógica da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores
construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da
interação, e os interlocutores, sujeitos ativos que, dialogicamente,
nele se constroem e são construídos.
O sentido de um texto, qualquer que seja a sua situação
comunicativa, não depende tão somente da estrutura textual em si mesma.
Os objetos de discursos a que o texto faz referência são apresentados,
em grande parte, de forma lacunar, permanecendo muita coisa implícita. O
produtor de um texto pressupõe, da parte do leitor/ouvinte,
conhecimentos textuais situacionais e enciclopédicos. Entrelaçados a
esses eixos, encontra-se, de forma muito sincronizada, o contexto
situacional permanente no texto, o qual interliga o percurso discursivo,
inferindo as idéias dialogicamente nele percebidas. Nessas perspectivas
é que Van Dijk diz que o contexto é como um conjunto de todas as
propriedades da situação social que são sistematicamente relevantes para
a produção, a compreensão ou o funcionamento do discurso e de suas
estruturas. A escrita é uma atividade processual,ou seja, uma atividade
durativa, um percurso que se vai fazendo pouco a pouco, ao longo de
nossas reflexões, de nosso acesso a diferentes fontes de informação. E é
por isso que quem lê tem a seu benefício o domínio linguístico, passando a
se expressar com maior riqueza de detalhes, mais criatividade e clareza.
Por outro lado, quem nunca lê ou lêpouco pode até falar muito, mas
sempre vai dizer pouco,porque dispõe de um repertório mínimo de palavras
para se expressar. A leitura é, na verdade, uma atividade que
mobiliza nosso repertório de conhecimentos e, por isso mesmo,não pode ser
improvisada, não pode nascer inteiramente na hora em que se começa a
escrever. O pouco êxito conseguido com a escrita de textos na escola se
explica muito pela visão estática e pontual da escrita, como se
escrever fosse apenas um ato mecânico de fazer alguns sinais sobre a folha
de papel e, assim, um ato que começa e termina no intervalo de tempo que
foi dado para se escrever. As dicas de como redigir um texto — como
escolher um bom começo,fazer um belo tópico frasal, evitar períodos
longos, não repetir demais uma única palavra, evitar chavões — não
são suficientes para a construção de um texto efetivo na sua comunicação e
dialógico idealmente. Tampouco garantem a permissividade para o
encadeamento e a articulação coerente e satisfatória para o texto.
O texto não é feito apenas de palavras e, portanto, não é composto
apenas do material linguístico que aparece em sua superfície. Nele, o
significado de uma parte depende das outras com que se relaciona. O seu
significado global não é o resultado da mera soma de suas partes, mas de
certa combinação geradora de sentidos. A produção de um texto, de alguma
forma, acaba sendo uma maneira de reorganizar o pensamento e o universo
interior da pessoa. A escrita não é apenas uma oportunidade para que se
mostre, comunique,mas também para que se descubra o que é, o que pensa,
o que quer, em que acredita, etc. Tudo isso porque todo ato de escrita
pertence a uma prática social. Ninguém escreve por escrever. A escrita
tem sempre um sentido e uma função.Levar esses princípios em
consideração vai implicar uma avaliação multidimensional bem mais ampla e
bem mais mobilizadora também, pois será constantemente recriada e
mobilizará estratégias, recursos e instrumentos
diversificados,diferentemente da mesmice com que ela ocorre nas práticas
atuais.
Portanto, a avaliação é uma estratégia fundamental no decorrer de
qualquer realização. Quando ela está totalmente vinculada à Educação, se
incumbe de valores que merecem ser destacados e que norteiam a
complexidade nela existente.Em se tratando de produção textual, essa
complexidade torna-se ainda mais evidente, em virtude do
vislumbramento rudimentar pelo qual a escola vem passando
e,consequentemente, também os alunos. De fato, criou-se uma cultura,
seguida por muitos docentes, em que a avaliação é um momento para se
detectar erros gramaticais totalmente desvinculados da prática social.
Interessante é observar que, se por um lado a escola não tem culpa,
estas muito recai sobre o aluno por não saber fazer um texto ou fazê-lo de
maneira vergonhosa. O que acontece é que os distensão conduzidos,
ensinados a fazer textos mecânicos,ou seja, tudo é elaborado por meio de
uma forma prontana qual os professores apresentam a maneira
“adequada”para a formalização de um bom texto. Para isso, justificam que o
certo é não usar períodos longos, não ser repetitivo nas palavras e
estar sempre atento para as regras de concordância e regência verbal.
Pronto! Para alguns adequado está o texto com essas características. No
entanto, se esquecem de algumas bases linguísticas sociodiscursivas
e textualistas, como coerência, coesão e elementos textuais extra texto,
que são responsáveis pela concatenação finalizadora e intangível para se
construir um bom texto. Portanto,não existem e, por isso, não se devem
dar fórmulas pronta saio aluno; faz-se necessário que este construa seus
textos intercalando-os com seus conhecimentos diversos, buscando,no seu
mundo de leitura, argumentos que enriqueçam atessitura estrutural na sua
produção escrita.
Ednaldo Gomes da Silva é graduado em Letras e
pós-graduado em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de
Vitóriade Santo Antão (Faintvisa–PE). Atualmente, é professorde Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental do Sistema Educacional Radar, no
município de Vitória, e professor tutorvirtual do curso de Letras da
Universidade Federal Ruralde Pernambuco (UFRPE), com a disciplina
Estudos Fonéticose Fonológicos da Língua Portuguesa, na Universidade
Abertado Brasil (UAB).
Referência bibliográfica
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os Segredosdo Texto. São Paulo: Cortez, 2006.
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