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Como se avalia a produção textual dos alunos do Ensino Médio


Ednaldo Gomes da Silva

Numa perspectiva da aprendizagem como processo pessoal, em que alguém constrói o conhecimento sobre determinado objeto, quem aprende não pode ausentar-se nem sequer ser apenas espectador de sua avaliação. Isso significa admitir que qualquer prática de avaliação escolar deve incluir a dimensão da autoavaliação. Nada pode dispensar o olhar do aprendiz sobre seu próprio processo de aprendizagem. Ninguém poderá dispensá-lo de, ele próprio, voltar-se para a atividade ou para as produções apresentadas, a fim de ponderar sobre as condições de sua qualidade ou de sua consistência.
Não tem sentido dispensar o próprio aluno desse papel de avaliador e eximi-lo de ser capaz de julgar a propriedade ou a adequação de seus desempenhos. Nas escolas, a avaliação que mais se destacou foi a pontual, feita nos dias de prova, nos dias de exame para atribuição de notas. O erro ganhou, no universo escolar, um lugar de destaque.
Dessa forma, avaliar passou a ser identificado como tarefa de correção. Assim, os alunos, quando querem saber se já foram avaliados, perguntam se as provas já foram corrigidas. De fato, o ato de corrigir implica, naturalmente, o erro, Como se avalia a produção textual dos alunos do Ensino Médio pois ninguém corrige o que está certo. Ou seja, professor e aluno já assumiram o contrato de se fixarem no erro, naquilo que precisa ser corrigido. É assim que, na correção dos textos, cada um só tem olhos para os erros, para aquilo que constitui alguma violação. Avaliar uma redação se reduz ao trabalho de apontar erros, de preferência aqueles que se situam na superfície da linha do texto. Nessa perspectiva de apenas focalizar o erro, professor e aluno perdem a oportunidade de perceberem também o que já foi aprendido, o que já pode ser testado como competência desenvolvida.
Os textos dos alunos, mesmo os do Ensino Médio, se apresentam com imensas dificuldades, não apenas linguísticas, e, no entanto, a escola continua não priorizando a produção de textos ou não priorizando a exploração das regularidades discursivas. Continua a comentar que os alunos não sabem escrever, que são vergonhosos seus textos. Ou seja, a escola continua agindo como se nada dissessem esses textos, ignorando os sinais que se evidenciam nas atividades de avaliação. Nessa trilha, é preferível apresentar as “fórmulas” a considerar as possibilidades de interpretação e as maneiras de elaboração do texto. Os elementos de textualização cercam todas as propriedades dele (intertextualidade, informatividade, coerência, coesão) e todos os processos e as estratégias na construção sequencial do texto. Especificamente, condicionam as situações e as regularidades de como funcionam sua estrutura. Dessa forma, pode-se afirmar que um conjunto de palavras, para ser um texto, precisa, de alguma forma, estar encadeado, articulado, concatenado, promovendo a sua coesão e, em parte, a sua coerência.
A priori, o próprio texto não aceita definição pronta, inacabada. Até porque ele vai depender das concepções que se adotam para o que é língua e, consequentemente, sujeito. Por exemplo, na concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto lógico do pensamento (representação mental). Na concepção de língua como código, como mero instrumento de comunicação, e de sujeito como predeterminado pelo sistema, o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando para este o conhecimento do código, já que o texto, uma vez decodificado, é totalmente explícito. Já na concepção interacional dialógica da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação, e os interlocutores, sujeitos ativos que, dialogicamente, nele se constroem e são construídos.
O sentido de um texto, qualquer que seja a sua situação comunicativa, não depende tão somente da estrutura textual em si mesma. Os objetos de discursos a que o texto faz referência são apresentados, em grande parte, de forma lacunar, permanecendo muita coisa implícita. O produtor de um texto pressupõe, da parte do leitor/ouvinte, conhecimentos textuais situacionais e enciclopédicos. Entrelaçados a esses eixos, encontra-se, de forma muito sincronizada, o contexto situacional permanente no texto, o qual interliga o percurso discursivo, inferindo as idéias dialogicamente nele percebidas. Nessas perspectivas é que Van Dijk diz que o contexto é como um conjunto de todas as propriedades da situação social que são sistematicamente relevantes para a produção, a compreensão ou o funcionamento do discurso e de suas estruturas. A escrita é uma atividade processual,ou seja, uma atividade durativa, um percurso que se vai fazendo pouco a pouco, ao longo de nossas reflexões, de nosso acesso a diferentes fontes de informação. E é por isso que quem lê tem a seu benefício o domínio linguístico, passando a se expressar com maior riqueza de detalhes, mais criatividade e clareza. Por outro lado, quem nunca lê ou lêpouco pode até falar muito, mas sempre vai dizer pouco,porque dispõe de um repertório mínimo de palavras para se expressar. A leitura é, na verdade, uma atividade que mobiliza nosso repertório de conhecimentos e, por isso mesmo,não pode ser improvisada, não pode nascer inteiramente na hora em que se começa a escrever. O pouco êxito conseguido com a escrita de textos na escola se explica muito pela visão estática e pontual da escrita, como se escrever fosse apenas um ato mecânico de fazer alguns sinais sobre a folha de papel e, assim, um ato que começa e termina no intervalo de tempo que foi dado para se escrever. As dicas de como redigir um texto — como escolher um bom começo,fazer um belo tópico frasal, evitar períodos longos, não repetir demais uma única palavra, evitar chavões — não são suficientes para a construção de um texto efetivo na sua comunicação e dialógico idealmente. Tampouco garantem a permissividade para o encadeamento e a articulação coerente e satisfatória para o texto.
O texto não é feito apenas de palavras e, portanto, não é composto apenas do material linguístico que aparece em sua superfície. Nele, o significado de uma parte depende das outras com que se relaciona. O seu significado global não é o resultado da mera soma de suas partes, mas de certa combinação geradora de sentidos. A produção de um texto, de alguma forma, acaba sendo uma maneira de reorganizar o pensamento e o universo interior da pessoa. A escrita não é apenas uma oportunidade para que se mostre, comunique,mas também para que se descubra o que é, o que pensa, o que quer, em que acredita, etc. Tudo isso porque todo ato de escrita pertence a uma prática social. Ninguém escreve por escrever. A escrita tem sempre um sentido e uma função.Levar esses princípios em consideração vai implicar uma avaliação multidimensional bem mais ampla e bem mais mobilizadora também, pois será constantemente recriada e mobilizará estratégias, recursos e instrumentos diversificados,diferentemente da mesmice com que ela ocorre nas práticas atuais.
Portanto, a avaliação é uma estratégia fundamental no decorrer de qualquer realização. Quando ela está totalmente vinculada à Educação, se incumbe de valores que merecem ser destacados e que norteiam a complexidade nela existente.Em se tratando de produção textual, essa complexidade torna-se ainda mais evidente, em virtude do vislumbramento rudimentar pelo qual a escola vem passando e,consequentemente, também os alunos. De fato, criou-se uma cultura, seguida por muitos docentes, em que a avaliação é um momento para se detectar erros gramaticais totalmente desvinculados da prática social. Interessante é observar que, se por um lado a escola não tem culpa, estas muito recai sobre o aluno por não saber fazer um texto ou fazê-lo de maneira vergonhosa. O que acontece é que os distensão conduzidos, ensinados a fazer textos mecânicos,ou seja, tudo é elaborado por meio de uma forma prontana qual os professores apresentam a maneira “adequada”para a formalização de um bom texto. Para isso, justificam que o certo é não usar períodos longos, não ser repetitivo nas palavras e estar sempre atento para as regras de concordância e regência verbal. Pronto! Para alguns adequado está o texto com essas características. No entanto, se esquecem de algumas bases linguísticas sociodiscursivas e textualistas, como coerência, coesão e elementos textuais extra texto, que são responsáveis pela concatenação finalizadora e intangível para se construir um bom texto. Portanto,não existem e, por isso, não se devem dar fórmulas pronta saio aluno; faz-se necessário que este construa seus textos intercalando-os com seus conhecimentos diversos, buscando,no seu mundo de leitura, argumentos que enriqueçam atessitura estrutural na sua produção escrita.
Ednaldo Gomes da Silva é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de Vitóriade Santo Antão (Faintvisa–PE). Atualmente, é professorde Língua Portuguesa do Ensino Fundamental do Sistema Educacional Radar, no município de Vitória, e professor tutorvirtual do curso de Letras da Universidade Federal Ruralde Pernambuco (UFRPE), com a disciplina Estudos Fonéticose Fonológicos da Língua Portuguesa, na Universidade Abertado Brasil (UAB).
Referência bibliográfica
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os Segredosdo Texto. São Paulo: Cortez, 2006.


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