O uso das novas tecnologias na educação tem sido amplamente
discutido. Mas o assunto permanece no campo do debate e pouco ou nada
avançou dentro de uma política global na educação. Programas nesta área
restringem-se a colocar computadores nas escolas.
“Fazer filmes. Às vezes não deveria ser nada mais do que um hábito,
como passear, ler o jornal, fazer anotações ou dirigir um carro.”
Wim Wenders, cineasta alemão
No começo do século passado, o pintor e fotógrafo húngaro Laszlo
Moholy-Nagy (1895-1946) dizia que no futuro não seriam considerados
analfabetos apenas os que não soubessem ler, mas também quem não
entendesse o funcionamento de uma máquina fotográfica. Hoje, no século
21, poderíamos dizer que também é analfabeto, aquele que não entender o
funcionamento da mídia. Desde que surgiu a fotografia, se faz necessário
que aluno compreenda também essa linguagem, como a do cinema e da
televisão.
Além da sala de aula
Ver filmes e analisá-los com os alunos não pode ser o único
caminho. É preciso motivar os estudantes a produzir filmes. Dentro dessa
proposta é que surgiu em 2002, na cidade de Guaíba, RS, o Festival de
Vídeo Estudantil e Mostra de Cinema. O evento busca mostrar experiências
e promover amplo debate sobre o assunto. A primeira edição abriu espaço
de trabalhos realizados por estudantes do Instituto Estadual de
Educação Gomes Jardim. Os trabalhos que se destacaram receberam o Troféu
Gomezito, alusivo ao Cipreste Farroupilha, símbolo de Guaíba e
Patrimônio Cultural do RS. Hoje, já na sua sétima edição, o evento vem
sendo considerado uma referência no Brasil nesta área. Percebe-se que os
trabalhos realizados nas escolas, envolvendo o uso do vídeo, da mídia,
permanecem basicamente no âmbito da sala de aula. O festival de Guaíba
tem proporcionado que produções tenham uma abrangência maior, integrando
excelentes experiências do Brasil e até do exterior.
Vivemos na era da imagem. Precisamos alfabetizar o aluno também
nesse contexto para que saiba analisar criticamente um programa de tv,
um filme, uma fotografia, a reportagem de um jornal e até a internet.
Quem já pegou uma câmera na mão e fez seu vídeo, por exemplo, passa a
ter um novo olhar em relação ao cinema e à tv. As novas tecnologias, até
mesmo o celular, tão combatido nas escolas, podem transformar-se em
ótimos instrumentos a serviço da educação.
A mídia está aí, ela não pode ser apenas crucificada, como sendo o
grande mal da sociedade que cria necessidades, que torna as pessoas
passivas e aliena. Ela é tudo isso e muito mais. É preciso aprender a
conviver com ela e formar pessoas com um olhar crítico. Todos sabem do
seu poder e que, como diz Leopoldo Zea, a mídia vai “como gotas de água
que não páram de pingar sobre uma pedra - por mais dura que ela seja -
penetrando os ouvintes, os telespectadores, até conformá-los a seus
interesses. Um duplo instrumento educativo, presente em todas as nossas
casas, mesmo as mais humildes, que vai criando, talvez sem que nos demos
conta, um determinado tipo de homem”. Assim, a escola não pode ser mero
reprodutor e sim estimular o aluno a criar e buscar novos
conhecimentos, apropriando-se das novas tecnologias. Espera-se que os
programas de informática nas escolas possam agregar filmadoras e
máquinas fotográficas e a alfabetização da imagem possa ser conteúdo nas
escolas.
Valmir Michelon,
professor de Filosofia, jornalista e fotógrafo.
Idealizador do Festival de Vídeo Estudantil, de Guaíba, RS.
Endereço eletrônico: michelonfolha@pop.com.br
Artigo publicado na edição nº 390, jornal Mundo Jovem, setembro de 2008, página 21.
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