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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Educar através da produção de imagens



     O uso das novas tecnologias na educação tem sido amplamente discutido. Mas o assunto permanece no campo do debate e pouco ou nada avançou dentro de uma política global na educação. Programas nesta área restringem-se a colocar computadores nas escolas.

     “Fazer filmes. Às vezes não deveria ser nada mais do que um hábito, como passear, ler o jornal, fazer anotações ou dirigir um carro.”
Wim Wenders, cineasta alemão

     No começo do século passado, o pintor e fotógrafo húngaro Laszlo Moholy-Nagy (1895-1946) dizia que no futuro não seriam considerados analfabetos apenas os que não soubessem ler, mas também quem não entendesse o funcionamento de uma máquina fotográfica. Hoje, no século 21, poderíamos dizer que também é analfabeto, aquele que não entender o funcionamento da mídia. Desde que surgiu a fotografia, se faz necessário que aluno compreenda também essa linguagem, como a do cinema e da televisão.

Além da sala de aula

     Ver filmes e analisá-los com os alunos não pode ser o único caminho. É preciso motivar os estudantes a produzir filmes. Dentro dessa proposta é que surgiu em 2002, na cidade de Guaíba, RS, o Festival de Vídeo Estudantil e Mostra de Cinema. O evento busca mostrar experiências e promover amplo debate sobre o assunto. A primeira edição abriu espaço de trabalhos realizados por estudantes do Instituto Estadual de Educação Gomes Jardim. Os trabalhos que se destacaram receberam o Troféu Gomezito, alusivo ao Cipreste Farroupilha, símbolo de Guaíba e Patrimônio Cultural do RS. Hoje, já na sua sétima edição, o evento vem sendo considerado uma referência no Brasil nesta área. Percebe-se que os trabalhos realizados nas escolas, envolvendo o uso do vídeo, da mídia, permanecem basicamente no âmbito da sala de aula. O festival de Guaíba tem proporcionado que produções tenham uma abrangência maior, integrando excelentes experiências do Brasil e até do exterior.

     Vivemos na era da imagem. Precisamos alfabetizar o aluno também nesse contexto para que saiba analisar criticamente um programa de tv, um filme, uma fotografia, a reportagem de um jornal e até a internet. Quem já pegou uma câmera na mão e fez seu vídeo, por exemplo, passa a ter um novo olhar em relação ao cinema e à tv. As novas tecnologias, até mesmo o celular, tão combatido nas escolas, podem transformar-se em ótimos instrumentos a serviço da educação.

     A mídia está aí, ela não pode ser apenas crucificada, como sendo o grande mal da sociedade que cria necessidades, que torna as pessoas passivas e aliena. Ela é tudo isso e muito mais. É preciso aprender a conviver com ela e formar pessoas com um olhar crítico. Todos sabem do seu poder e que, como diz Leopoldo Zea, a mídia vai “como gotas de água que não páram de pingar sobre uma pedra - por mais dura que ela seja - penetrando os ouvintes, os telespectadores, até conformá-los a seus interesses. Um duplo instrumento educativo, presente em todas as nossas casas, mesmo as mais humildes, que vai criando, talvez sem que nos demos conta, um determinado tipo de homem”. Assim, a escola não pode ser mero reprodutor e sim estimular o aluno a criar e buscar novos conhecimentos, apropriando-se das novas tecnologias. Espera-se que os programas de informática nas escolas possam agregar filmadoras e máquinas fotográficas e a alfabetização da imagem possa ser conteúdo nas escolas.

Valmir Michelon,
professor de Filosofia, jornalista e fotógrafo.
Idealizador do Festival de Vídeo Estudantil, de Guaíba, RS.
Endereço eletrônico: michelonfolha@pop.com.br
Artigo publicado na edição nº 390, jornal Mundo Jovem, setembro de 2008, página 21.


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